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domingo, abril 17, 2005

A longa noite das trevas

Naqueles tempos – tempos da ditadura a que a Revolução de Abril pôs termo – a escola primária era, quase sempre, sinónimo de reguadas (apanhava-se nas mãos, que ficavam a arder...), de Mocidade Portuguesa com os seus obrigatórios exercícios e marchas, de muito “decoranço” das sábias lições que vinham nos livros, todas elas viradas para a apologia do Estado Novo e dos valores tradicionais condensados na trilogia do regime: “Deus, Pátria, Família”.
E, amarfanhando por completo a criatividade e espírito crítico dos alunos, era obrigatório empinar tudo, papagueando a lição, mesmo quando não compreendíamos nada, desde as linhas de caminho de ferro e seus ramais às produções agrícolas das “nossas províncias ultramarinas” (era assim que se chamava às ex-colónias).
O Livro de Leitura da 3ª Classe é o único livro que conservo dos meus tempos de escola primária.
A primeira lição era sobre a Pátria.
As últimas lições eram sobre Doutrina Cristã, ensinando, entre outras sacrossantas verdades, o que era o Céu, o Inferno e o Purgatório e a quem eram destinados. Pelo meio ensinavam-se várias “virtudes”: obediência, respeito pelos chefes e governantes, veneração pelos heróis da Pátria, dedicação ao trabalho, humildade, satisfação na honradez da pobreza.

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