Pesquisar neste blogue

segunda-feira, novembro 28, 2005

"Trindade" de símbolos


48 anos lado a lado

É bom lembrar e também dizer aos mais novos, que os crucifixos não apareceram nas paredes da escola por obra de nenhum milagre, foram mandados lá pôr ao lado da fotografia de Salazar, por ordem deste ditador que nos crucificava a todos. Surgem como moeda de troca pela bênção da ditadura pela hierarquia da Igreja católica, a quem era dado o exclusivo da evangelização em Portugal, aquém e além-mar.
A presença de símbolos religiosos nas salas de aula e a obrigatoriedade das aulas de religião e moral são imposições que não se admitem em estados laicos e democráticos. A religião deve ser uma emanação da liberdade e não um sub-produto da ditadura.
Os cristãos podem usar crucifixos ao pescoço, pendurados no espelho retrovisor do automóvel, colocados nas paredes das salas ou pousados nas mesas de cabeceira, não podem é obrigar uma população inteira, seja ou não cristã, a continuar a recordar que durante décadas Deus e Pátria fundiam-se num único símbolo da Nação.
A irritação da Igreja Católica com a retirada dos crucifixos das escolas é pura hipocrisia, a não ser no sentido em que estes servem para impor as suas convicções aos que as não partilham.

16 comentários:

Caiê disse...

Penso que as aulas de Religião e Moral (o nome é muito giro!) não são obrigatórias... eu nunca as tive e os meus irmãos também não.

vermelhofaial disse...

Ainda quero acrescentar que deviam ser abolidos os feriados religiosos, ou melhor, substituidos por dois ou três feriados a cada confissão religiosa com representação institucionalizada. Parece-me paradoxal que um país que, na sua Constituição, defende a igualdade de tratamento para todas as confissões religiosas coloque como feriados obrigatórios alguns dias relevantes apenas para uma dessas religiões, neste caso a católica. Deste modo, todos teriam direito a tirar os seus dias festivos, trabalhando nos dias festivos das outras confissões. Quem sabe se assim não se aumentariam os níveis de produtividade de que tanto se fala e o país tanto precisa?

vermelhofaial disse...

Sim, as aulas de religião agora não são obrigatórias, mas eram e faziam parte dum pacote que incluía a afixação dos crucifixos e outras práticas conotadas com a religião católica e impostas a toda a gente.

Anónimo disse...

Não está faltando a foto à esquerda do tomás?
A teoria de feriados para as diversas religiões é prática comum no médio-oriente e ...não há problema nenhum
PS: Continuo a não houvir o Louçã.

musalia disse...

bem retratado, tudo o que expões. completamente de acordo.

RD disse...

Religião e Moral não são 2 coisas que devam estar ligadas por exclusividade. Acho que todos entendemos porquê.
Não está em questão a retirada dos crucifixos, mas sim a forma como quem os tira se justificará, entende? São coisas distintas.
Por mim podem retirá-los todos porque não sou de adorar santos ou símbolos (apesar de respeitar quem o faça).
Tem que haver um certo conhecimento de causa por parte de quem explica as coisas às crianças.
Sinceramente, e sem qualquer tipo de provocação, como o faria? Sabe dizer-nos?

RD disse...

Deixei de ter Religião e Moral quando me apeteceu e foi uma decisão respeitada pela minha mãe, que é a pessoa mais ligada à religião lá em casa.
Pode-se dizer que tenho um «percurso» que nada fica a dever a símbolos, santos, instituições, influências de segundos, terceiros ou a seja o que for.
Essa sua «fixação» pela defesa de pseudo-oprimidos parece-me extremamente exagerada e desfasada, mas entendo-a como resultado da sua «mundividência». Afinal é um homem que nasceu antes do 25 Abril. Eu não. Sempre vivi em Liberdade e só tenho a agradecer-lhe o esforço que fez para que eu a tivesse, mas tenha mais descanso.
Chegámos a um ponto em que já há liberdade para quem a quer, não podemos é forçar quem não a quer. Se é que me entende. :)

vermelhofaial disse...

Não tenho formação em didática ou pedagogia, mas acho que qualquer professor tem a obrigação de saber explicar às criancinhas a retirada dos crucifixos. Eu já tenho filhos adultos, que não são baptizados e nunca frequentaram aulas de religião nem práticas religiosas, sempre conviveram com ambientes confessionais e não ficaram trumatizados. Os argumentos expostos foram suficientes para lhe responder às dúvidas, neste aspecto, e penso que também satisfariam a maioria das crianças.
Quanto à minha "fixação", penso que tem o filme a rodar ao contrário.
O tempo da evangelização já era e o tratamento preveligiado da religão católica também tem de acabar. Todos tem direitos, exerçam-nos, mas não imponham as suas crenças a quem resolve os seus problemas de outra maneira.
Eu não discuto fé nem pretendo arregimentar ninguém para o ateísmo, mas também me sinto ofendido quando me querem obrigar a trilhar caminhos que não são os meus. Da mesma maneira que reconheço e respeito os lugares de culto também exijo que os lugares públicos se mantenham isentos de manifestações religiosas.
Para mim LIBERDADE é poder escolher, conscientemente. Não percebi o conceito de liberdade e o direito de a não querer. Enfim, eu quero ser livre e defendo esse direito para todos.

RD disse...

Eu já sou. :)

Caiê disse...

Há uma claúsula que podemos invocar se somos doutra religião (e aqui falo com conhecimento, embora me esqueça o artigo deste Decreto Lei, pois há 3 anos que não tenho de mexer nele...). Este artigo diz que podemos não trabalhar nos nossos feriados religiosos, caso possamos provar que tal dia é um feriado na nossa religião.
Se não me engano, havia, porém um limite de feriados que se podiam invocar... e é claro que a entidade patronal torcia sempre o nariz...

Anónimo disse...

Estamos a fugir à questão principal do "POST" do Vermelho.
... e o Periquito tem razão, falta ali, do outro lado da cruz, o "retrato" do cabeça de abóbora, o Tomazinho.

Caiê disse...

Qualquer ditadura deixa marcas. Se a ditadura salazarista foi pautada pela sua desmesurada convicção em obrigar as pessoas a seguir ditames religiosos (noemadamente católicos), as ditaduras do Leste Europeu foram pautadas pelo oposto, ou seja, por não deixarem o povo seguir convicções de fé (de novo, nomeadamente católicos ou ortodoxos). Como não sou de 8 nem 80 - e logo por aqui se vê que não sou de ditaduras, sejam quais forem... - defendo que a liberdade nunca estará no proibir coisa alguma! Cada qual tem o direito de pensar com a sua cabecinha.

Anónimo disse...

O problema principal não são as convicções religiosas de cada um, mas sim o uso (abuso) que fazem dessa mesma religião.
Isto é o mais condenável.
Os católicos foram perseguidos em outras situações inversas, caso das ditaduras de direita militar em países da américa latina, em que a maioria do clero esteve ao lado de organizações de esquerda em luta contra o fascismo.
Em Portugal, o triunvirato Salazar - Américo Tomaz - Cardeal Cerejeira, marcaram a ditadura, daí que se compreenda uma certa animosidade, não contra a religião, mas sim contra os seus "ministros". Não todos, como é evidente.
Não podemos simplificar as questões, sob pena de cairmos nos extremismos, Staline por um lado Hitler pelo outro.
Mas a "democracia(?)" do Bush faz coisas bem piores, com ou sem religião.

Caiê disse...

A quê do Bush? eh eh eh! ;)

vermelhofaial disse...

A pedido de várias famílias e reconhecendo a imprecisão da ilustração deste post, resolvi alterar o título e acrescentar a foto do "cabeça de abóbora". Espero que agora fiquem satisfeitos.

Anónimo disse...

Meu caro, agora que o "quadro" está completo, podes fazer aquilo que, por incrivel que pareça, ainda não foi feito num certo número de escolas (do interior) deste país:
- Bani-los
Pelas razões que todos nós sabemos!