Os governo e as classes privilegiadas tentaram sempre apresentar a imagem de que se preocupavam com os pequenos e com a humanidade servil. Os nossos dirigentes procuraram sempre aparentar a magnanimidade, desde a filosofia de Henry Ford de pagar o suficiente aos seus empregados para que eles pudessem comprar os seus próprios veículos, até à teoria das sobras dos ricos de Ronald Reagan.
Desde há muito que os governos e as classes privilegiadas tentam subverter o movimento dos trabalhadores. Aprenderam à sua custa que é compensador pacificar a classe trabalhadora mas só o suficiente para que ela se torne fraca e obediente. Todas as tentativas de formar uma organização de trabalhadores verdadeiramente democrática foram esmagadas ou impossibilitadas.
Entretanto, o público é influenciado pelas opiniões e perspectivas da classe privilegiada. Na escola, ensinam-nos a história da elite, a história laboral serve apenas de rodapé – se é que é mencionada. Os nossos meios de comunicação dão as notícias só do ponto de vista da elite – notícias de negócios. Mas não dão o valor real dos salários ou a actual proporção entre o pagamento aos presidentes das empresas e o pagamento médio aos trabalhadores. Noticiam a taxa de desemprego sem reflectir o número de desempregados que chegaram ao fim dos benefícios de desemprego ou sem procurar saber o número dos sem-abrigo. Noticiam os gastos do consumo sem os correlacionar com as dívidas dos consumidores. E todos estes pequenos pormenores navegam num mar de violência pública, que leva muita gente a ter medo dos seus vizinhos e a ter medo de pôr o pé fora das suas próprias casas. Para culminar, somos perturbados por uma maré de entretenimentos que, na melhor das hipóteses, são inócuos e, na pior, são defensores subconscientes da visão aprovada da realidade.
Podem ter a certeza de que a elite já chegou à conclusão de como vai maximizar os seus lucros com o pico petrolífero. Apesar de todos os disparates que os economistas dizem, eles sabem que a nossa economia pode começar a contrair-se em resultado da diminuição da produção de energia. E sabem que em qualquer forma de capitalismo – seja ela o mercado livre, o mercado assistido pelo estado ou o mercado fortemente regulamentado – a contracção económica contínua é um eufemismo para colapso. Os peritos na manipulação do dinheiro sabem quando devem saltar fora, e sabem como manipular mesmo um mau negócio a fim de obter o máximo lucro.
Embora haja razões para os preços do petróleo estarem actualmente a subir, não há razão nenhuma nesta altura para terem atingido os 60 (e tal)dólares por barril. Isto é resultado da especulação, e há quem esteja a tirar enormes lucros com isso. Até agora, o pico petrolífero é apenas conversa sussurrada no mercado. O verdadeiro pânico do mercado ainda está para chegar, talvez daqui a um ano, talvez no próximo mês ou já na próxima semana.
Quando o pânico chegar, a elite está pronta para o gerir. Os privilegiados vão arrebatar todos os lucros, depois vão liquidar os seus bens e levá-los para longe antes que o mercado desabe. Vão desarmar as suas tendas e sair da cidade.
Entretanto, a classe trabalhadora vai sofrer o principal impacto desta catástrofe. A taxa de desemprego vai levantar voo quando as grandes empresas fecharem as portas e declararem bancarrota. Quer os salários subam ou desçam, o valor da moeda em que forem pagos torná-los-á inúteis. Haverá crises simultâneas nos transportes, na agricultura e no saneamento público. Haverá um aumento brutal de sofrimento, miséria, fome e morte.
Assim, rapidamente, perder-se-ão 200 anos de conquistas sindicais.
Há uma coisa que poderia impedir este cenário: um levantamento da classe trabalhadora. A classe trabalhadora tem poder para fazer parar tudo através da greve geral. Só a ignorância e a abdicação deste poder último é que dá à classe privilegiada esse poder que ela utiliza para nos explorar.
Neste momento eles não acreditam que sejamos capazes de tal resistência unificada. As nossas organizações sindicais são fracas, subornadas e corruptas. Estamos mal informados, endoutrinados e isolados. Temos medo dos nossos próprios vizinhos e somos metidos rapidamente na linha com a ameaça do terrorismo. Já se esqueceram da batalha de Seattle e têm ignorado protestos semelhantes desde então. Logo que é localizado um protesto, podem refreá-lo, minimizar a publicidade dos media e dar-lhe a volta apropriada, e esmagá-lo se necessário. O maior espinho que têm neste momento é a nossa capacidade de comunicar pela Internet.
É preciso que todos se envolvam, para seu próprio bem e pelo bem dos seus entes queridos. Se deixarmos esta questão nas mãos da classe privilegiada, depois não podemos queixar-nos quando nos encontrarmos a estrebuchar debaixo da canga da servidão por dívidas ou – ainda pior – a morrer à fome. Se não começarmos a agir agora mesmo, será demasiado tarde.
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http://www.onlinejournal.com/Special_Reports/090205Pfeiffer/
090205pfeiffer.html