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quarta-feira, dezembro 21, 2005

O "espírito de Natal"

À medida que nos vamos aproximando do Natal, vejo-me dividido, como sempre, entre o prazer que retiro dos rituais familiares típicos da quadra e a minha profunda convicção de que, enquanto religião institucionalizada, o cristianismo tem sido um terrível desastre. Sou um ateu assumido.

Está chegando o Natal!
O Pai Natal encarrega-se dos presentes, aquele saco enorme!
As crianças ganham muitos brinquedos... Elas acreditam no Pai Natal.
Criaram a ilusão de que as coisas são fáceis... Basta que "sejam boazinhas" para receber o que desejam. E quando crescem o terrível choque de saber que o Pai Natal não existe! Tudo é MENTIRA?
É a festa mundial da mentira. Do Mundo Capitalista. Hipocrisia existe e se fosse doença letal, a maior parte da humanidade estaria morta, a maioria na noite de Natal, ao som de "Jingle Bells".
As pessoas esmeram-se para estar melhor que o outro... Roupas, Jóias, Carros... sorridentes não porque estão felizes...Fofocas... Uma felicidade representada por um novo brinquedo, uma nova roupa, um novo liquidificador, um imenso leitão assado, litros e litros de bebidas. Uma felicidade hipócrita, frágil e falsa... Aquele que está de carro novo, graninha no banco e pode me oferecer algo lucrativo (INTERESSE).
Um clima de melancolia, depois de passar 365 dias de brigas no dia de natal fingem que estão numa família normal, a mais harmoniosa do mundo...Parentes que passam o ano inteiro às turras, chefes explorando seus funcionários, maridos que traem as mulheres e vice-versa, pais com atitudes carrascas com relação aos filhos e também vice-versa, políticos roubando a população, todos eles, carrascos e vítimas confraternizando porque é Natal. Depois, no dia seguinte e no resto do ano, a sacanagem continua...até o próximo Natal. AMAI AO PRÓXIMO COMO A TI MESMO!
Empresas, poderosos, políticos, doam dinheiro e cabazes a instituições de caridade - que depois descontam nos impostos, as pessoas riem e choram de alegria, emocionam-se com o par de meias recebido, afinal o "Espírito de Natal" está ali presente.
Mas tudo bem é dia de Natal, nesta data festiva tão importante não existe pecado, vamos comemorar....
Comer até passar mal – GULA
Beber demais – ALCOOLISMO
Presentear por interesse – FALSIDADE
Dentro de casa aquele monte de gesso santificado – IDOLATRIA

É, estamos em época de Natal, lá está a árvore, com as luzinhas acendendo e apagando… e eu quero desejar a todos um Feliz Natal.

4 comentários:

RD disse...

Bem, cada um sabe de si.
Eu e as minhas circunstâncias desejamo-vos um feliz natal.
Um abraço ao periquito tb. :)

Anónimo disse...

Se o Natal pode ser quando um homem quizer, então força, amigo!
Vamos "apanhar" o espirito e dar-lhe o verdadeiro sentido.
Mesmo assim, um grande abraço para ti e desejos de um Bom Natal + familia. Sinceramente.
Pelo que me apercebo, GadoBravo já está cá. Que passe um Bom e Santo Natal junto dos que lhe são queridos. O mesmo desejo extensivo a quantos por aqui navegam.

Caiê disse...

O Natal é, quanto a mim, uma oportunidade para juntar a família e um pretexto para passarmos tempo com quem gostamos e para fazermos bons votos e nos dedicarmos a cumpri-los. Não devíamos precisar de pretextos mas o ser humano move-se por motivações e rituais. Todos o sabemos, e se funcionamos assim... Ao menos, o funcionar já será positivo! Veja o lado coloido das festas e tenha um bom Natal!

Anónimo disse...

Vermelhinho, abaixo envio-te a minha prenda de Natal:


«O pior do Natal» - Crónica de Margarida Rebelo Pinto

Por mais que me esforce, nunca consegui entrar totalmente no espírito do Natal. Esta mania de chegar ao fim do mês de Dezembro e encarnar uma personalidade conciliadora, amiga de seu amigo, família e vizinhos, como se o dia 25 mudasse alguma coisa, irrita-me. Gosto de fazer a árvore de Natal e montar o presépio, gosto da festa em família até percebo que o Natal tenha um encanto especial para as crianças, mas de ano para ano, com a fúria consumista nacional cada vez mais exaltada, só me apetece ficar fechada em casa ou ir comprar os presentes em lojas alternativas para não ter de enfrentar o oceano humano que invade o país de norte a sul.

A partir dos feriados de Dezembro ir a um centro comercial torna-se mais violento e demorado do que qualquer etapa da história trágico-marítima; por maiores que sejam os parques de estacionamento, estão sempre a abarrotar. As escadas rolantes parecem escadas do metro em Tóquio e os corredores ficam iguais aos do estádio do Benfica em noite de final de uma qualquer taça.

E depois, há o tema natalício, trabalhado e explorado até ao grau da loucura colectiva; são os enfeites de Natal, fitas, coroas, o Pai Natal electrónico que canta, ri, e dança o vira, as flores, os arranjos, as luzes nas ruas, etc, etc. Nenhum pobre mortal consegue escapar à onda devastadora de luz e cor que invade o mundo.

Mas há coisas piores, como por exemplo as músicas de Natal. Uma pessoa chega a dia 15, pouco mais de uma semana antes do grande dia e os nervos já não aguentam as músicas natalícias, que ainda por cima são sempre as mesmas e sempre más. Entre o Bing Crosby com o White Christmas e o coro de Santo Amaro de Oeiras, venha o diabo e escolha, passando pela Mariah Carey e outros cromos, venha o diabo e escolha.

Até parece mal falar do diabo numa quadra dita santa, mas se ele existe, deve estar a esfregar as mãos e a dar festas na sua cauda demoníaca com o que a sociedade ocidental fez do Natal. O que era uma celebração sacra, solene e austera ¿ não nasceu o menino numa gruta, entre palhas, filho de mãe imaculada e pai putativo e apenas com a companhia de uma vaca e um burro? ¿ para uma festa de consumismo que roça a demência.

O Natal é bom para as crianças e para as pessoas mais velhas que, depois de um ano em solidão em frente à caixinha mágica podem conversar com os filhos e os sobrinhos e sentar ao colo os netos e os bisnetos e também para os emigrantes que aproveitam a quadra para regressar a casa. Para os adultos, já é outra história: sempre mais de dez pessoas a quem dar presentes, quilómetros de estrada para ir a casa de todos os familiares, dietas interrompidas e dores de barriga nos dias seguintes por causa das rabanadas, restos de papel de embrulho que quase ninguém recicla e um cansaço imenso.

Não sou contra o Natal, só tenho uma visão pessimista daquilo em que o Natal se transformou. Preferia ter de comprar menos presentes por obrigação e festejar a celebração de uma forma mais tranquila. Não há uma frase feita que diz que o Natal é sempre que um homem quiser? E que tal sermos mais conciliadores durante o ano inteiro em vez de esperar por um dia do ano para nos pormos de bem com o mundo? É que, bem vistas as coisas, sobram 364 dias. OU 365 nos anos bissextos.