Nas polémicas políticas recentes tem sido muito exaltado o valor da estabilidade, como requisito da boa governação, quando não da própria governabilidade.
E em associação com a ideia de estabilidade tem aparecido de novo apresentada como receita salvífica a maioria absoluta de um partido no parlamento.
As alusões frequentes a essa matéria, e a mistura que se tem notado ultimamente entre legislativas e presidenciais e até posicionamentos com vista às autárquicas que estão à porta, fizeram-me recordar situações de um passado recente, que só não é mais lembrado certamente devido à curtíssima memória com que hoje vivemos a sucessão rápida de notícias, ao ritmo do telejornal.
Na verdade ainda não há muitos anos tivemos um equilíbrio político em que o Partido Socialista tinha nas suas mãos praticamente todos os órgãos com expressão e peso no edifício político nacional.
Tinha uma maioria na assembleia, que só não era absoluta por um triz, ficando apenas à distância de um queijo limiano.
Contrariando as teorias usuais dos ovos e dos cestos, o PS tinha também a Presidência da República. E dominava todas as principais câmaras municipais do país.
Pode acrescentar-se sem grande discussão que mesmo órgãos como o Tribunal Constitucional ou a Procuradoria-Geral da República estavam ocupados por pessoas da área do PS, escolhidas pelo PS.
O governo António Guterres dispunha assim de uma situação que nunca nenhum governo possuiu, nem antes nem depois dele.
Que lembranças podemos ter desses tempos? Seria de esperar que fosse uma época dourada de estabilidade e boa governança, em contraponto ao curto período das trapalhadas santanistas.
Porém, a verdade é que a lembrança que ficou, ainda antes da derrocada final, com o abandono e a fuga, foi de um longo periodo de trapalhadas, com episódios múltiplos, e com frequência inacreditáveis, de que seria útil conservar a memória.
Na área económica e financeira, actualmente tão em foco, sucederam-se as confusões, inversões de marcha, rectificações e barafundas, com sucessivos protagonistas, de que lembro Daniel Bessa, Augusto Mateus, Pina Moura, Manuela Arcanjo, Sousa Franco, Maria João Rodrigues, Sousa Franco...
Devo estar a esquecer alguns, mas o que me lembro com certeza é da opinião de Sousa Franco depois de sair, afirmando termos o pior governo desde o tempo da senhora D. Maria II.
Alguns leitores estarão recordados das ofensas entre Cravinho e Garcia dos Santos, dos problemas com Fernando Gomes e Armando Vara, do pitoresco Gomes da Silva, da rotação de pessoal e de políticas a que obrigaram as frequentes demissões e desentendimentos internos.
A desestabilização, nunca veio de fora; veio sempre de dentro. Por este pormenor pode calcular-se a natureza dos problemas com que se confrontaram os executivos Guterres.
Razoavelmente não deveria ser preciso chamar a atenção para a excelsa obra deixada para a posteridade por tais governos, enquadrados pela monocromia então reinante em todo o aparelho de Estado. E todavia, perante a amnésia instalada e abundantemente fomentada, parece-me que a retrospectiva não é despropositada.
O espectáculo de inépcia, desorganização e incapacidade fornecido durante anos a um país atónito pela força política que agora com tamanha desenvoltura se propõe governar-nos não pode sem mais sumir-se por algum alçapão da história.
E em associação com a ideia de estabilidade tem aparecido de novo apresentada como receita salvífica a maioria absoluta de um partido no parlamento.
As alusões frequentes a essa matéria, e a mistura que se tem notado ultimamente entre legislativas e presidenciais e até posicionamentos com vista às autárquicas que estão à porta, fizeram-me recordar situações de um passado recente, que só não é mais lembrado certamente devido à curtíssima memória com que hoje vivemos a sucessão rápida de notícias, ao ritmo do telejornal.
Na verdade ainda não há muitos anos tivemos um equilíbrio político em que o Partido Socialista tinha nas suas mãos praticamente todos os órgãos com expressão e peso no edifício político nacional.
Tinha uma maioria na assembleia, que só não era absoluta por um triz, ficando apenas à distância de um queijo limiano.
Contrariando as teorias usuais dos ovos e dos cestos, o PS tinha também a Presidência da República. E dominava todas as principais câmaras municipais do país.
Pode acrescentar-se sem grande discussão que mesmo órgãos como o Tribunal Constitucional ou a Procuradoria-Geral da República estavam ocupados por pessoas da área do PS, escolhidas pelo PS.
O governo António Guterres dispunha assim de uma situação que nunca nenhum governo possuiu, nem antes nem depois dele.
Que lembranças podemos ter desses tempos? Seria de esperar que fosse uma época dourada de estabilidade e boa governança, em contraponto ao curto período das trapalhadas santanistas.
Porém, a verdade é que a lembrança que ficou, ainda antes da derrocada final, com o abandono e a fuga, foi de um longo periodo de trapalhadas, com episódios múltiplos, e com frequência inacreditáveis, de que seria útil conservar a memória.
Na área económica e financeira, actualmente tão em foco, sucederam-se as confusões, inversões de marcha, rectificações e barafundas, com sucessivos protagonistas, de que lembro Daniel Bessa, Augusto Mateus, Pina Moura, Manuela Arcanjo, Sousa Franco, Maria João Rodrigues, Sousa Franco...
Devo estar a esquecer alguns, mas o que me lembro com certeza é da opinião de Sousa Franco depois de sair, afirmando termos o pior governo desde o tempo da senhora D. Maria II.
Alguns leitores estarão recordados das ofensas entre Cravinho e Garcia dos Santos, dos problemas com Fernando Gomes e Armando Vara, do pitoresco Gomes da Silva, da rotação de pessoal e de políticas a que obrigaram as frequentes demissões e desentendimentos internos.
A desestabilização, nunca veio de fora; veio sempre de dentro. Por este pormenor pode calcular-se a natureza dos problemas com que se confrontaram os executivos Guterres.
Razoavelmente não deveria ser preciso chamar a atenção para a excelsa obra deixada para a posteridade por tais governos, enquadrados pela monocromia então reinante em todo o aparelho de Estado. E todavia, perante a amnésia instalada e abundantemente fomentada, parece-me que a retrospectiva não é despropositada.
O espectáculo de inépcia, desorganização e incapacidade fornecido durante anos a um país atónito pela força política que agora com tamanha desenvoltura se propõe governar-nos não pode sem mais sumir-se por algum alçapão da história.
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