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segunda-feira, janeiro 09, 2006

Uma velha questão: quantidade vs qualidade


Recebi de uma amiga, filha de pessoas inteligentes e que muito prezo, um texto onde o mote é o tamanho do “coiso”, do dito membro fálico, do objecto de culto e prazer que faz girar o Mundo e arredores. A breve, mas sincera, alusão à sua ascendência serve apenas para enquadrar a sua formação, de berço, o que não deixa de funcionar como antítese para a excelência, se bem que mal fundamentado, texto que uma vez mais nos enche de prazer receber.
Para começar acho de mau gosto ver comparado o meu “ Manuel Joaquim” com um qualquer “aeroplano” por muito potente e arejado que possa ser. Confesso que prefiro um bom Jumbo da Boeing a um qualquer Airbus seja ele 380 ou não, depois e caso a minha Amiga não saiba, um “passarão” desse tamanho não pode, por razões técnicas, aterrar em qualquer pista o que só por si limita os destinos; depois, um monstro dos ares como esse, é demasiado rápido, uma qualquer avioneta demora mais tempo a chegar ao destino aumentando assim o prazer da viagem, quem gosta de comparações entre o “coiso” e as adoráveis máquinas voadoras é porque é especialista nas artes da aviação e assim sendo gosta de desfrutar do prazer de voar e quanto mais tempo demorar a viagem, melhor. Depois, confesso, que uma boa “planadela” até ao Algarve, numa noite de Verão, é bem mais agradável que a escassa e insonsa meia hora de voo até ao Sul… mas isto são gostos.
Seguidamente surgem as comparações, “ Pantagruélicas”, entre o “coiso” e os enchidos… sinto ainda algum mau gosto na coisa, mas não me choca tanto, ainda assim discordo profundamente das comparações, malévolas e infundadas, entre o tamanho dos enchidos e o sabor dos mesmos. Confesso alguma desilusão por saber ser a minha querida e tesuda Amiga, uma amante de Paris e consequentemente da “Nouvelle Cuisine” e ainda assim cair no erro de avaliar o paladar de um enchido pelo tamanho do mesmo… Essas alusões a “linguiças”, “chouriços de sangue”, “farinheiras”, “presuntos de Parma” e outros fálicos enchidos são de todo despropositadas. A linguiça pode ser frágil na aparência mas poderosa no palato, já os afamados chouriços de sangue vivem muito da fama e pouco das provas dadas. São por demais conhecidos os casos de poderosos chouriços de sangue que se partem inesperadamente, para não mais recuperarem… e as farinheiras que por vezes fazem jus ao nome e não passam, senão, de uma pele, bem enquadrada é certo, mas cheia de coisa nenhuma.
Depois a alusão a Óscar de La Renta cai sempre bem, é bonito um pouco de cultura nesta conversa de “coisos” e seus derivados, mas não se enquadra devidamente na temática em discussão. A opulência, quase sempre na forma, não se pode comparar à beleza da simplicidade, das formas, mas à grandeza na qualidade. As coisas, ou os “coisos”, simples são sempre os mais apreciados, sim porque não raras vezes, a simplicidade é algo de quase perfeito e que nos faz sonhar. Cá para mim tenho que a importância do tamanho é relativa, tudo se resume a uma simples questão: Técnica, jeitinho, saber o que fazer quer aos comandos de um Airbus como de uma avioneta, quer ao cozinhar uma simples e humilde linguiça ou um poderoso chouriço de sangue, e isso confesso é algo que não está ao alcance de qualquer um. Fiam-se no tamanho e esquecem-se de aprimorar a arte, quer de voar, quer de comer… De facto concordo plenamente com a minha querida e tesuda amiga quando afirma que “Deus fez o tamanho e só as mulheres parecem perceber porquê”…
É que só mesmo as mulheres se preocupam com o acessório.

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