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domingo, julho 03, 2005

G8/Live 8: uma perigosa ilusão

A organização de um concerto rock global descentralizado em dez palcos de dez países diferentes é apresentado como factor de pressão sobre os dirigentes do G8 para realizarem um efectivo perdão da dívida de países pobres e de uma duplicação das ajudas a África.
Na realidade, o que se está encenando não é mais do que a "salvação" da vítima pelo verdugo. Inocenta-se assim os países ricos e as corporações transnacionais que, de facto, controlam as políticas dos principais dirigentes mundiais, criando a ilusão de que eles -os do G8- fazem o melhor que podem, contribuem no máximo das suas possibilidades, etc.

As "ajudas" que tão generosamente os países ocidentais vêm dispensando desde há tantos anos aos países pobres não têm tido como consequência qualquer alívio no seu estado de depauperamento, mas antes têm agravado as condições gerais, no plano da saúde pública e da autonomia alimentar. Mas também se têm agravado as situações das migrações tanto internas como para países terceiros e têm-se sucedido guerras "étnicas" ou de clãs rivais.
As referidas "ajudas" são condicionadas ao cumprimento de draconianos planos ditos de "ajustamento estrutural", sob o mando da dupla FMI / Banco Mundial, que têm como principal característica proceder à privatização de domínios inteiros, como - por exemplo - a distribuição de água, oferecidos a gulosas multinacionais, como a "Vivendi" .

É escusado insistir no depauperamento extremo em que se encontram vários países africanos devido à epidemia de SIDA. Neste caso, anos e anos a fio, os EUA e outros países onde estão sediadas as firmas farmacêuticas detentoras de patentes de medicamentos retrovirais, indispensáveis para o combate à infecção pelo HIV, têm feito toda a pressão possível para impedir que sejam produzidos e comercializados esses medicamentos a um preço compatível com as capacidades desses países paupérrimos.

Na agricultura, vemos que toda a produção está virada para espécies de exportação, como o café, o cacau, o amendoim, etc. havendo um superávit de produção alimentar muito grande em certos países, em paralelo com situações de fome crónica ou aguda. Isto não é surpreendente, quando se sabe que estas produções para exportação são as principais fontes de divisas de muitos desses países e que essas divisas são indispensáveis para o pesadíssimo serviço da dívida.

O que os países ricos iriam "perdoar", seria apenas as dívidas dos 30 países mais pobres e este "perdão" não envolve todos os capitais em dívida, pois não inclui empréstimos contraídos por esses 30 países directamente a bancos privados ou consórcios desses bancos. Esses países continuariam portanto devedores e pagadores de juros da sua dívida, embora numa percentagem menor.

O capitalismo internacional tem sangrado a generalidade dos países do terceiro mundo, extraindo as suas riquezas a preço muito favorável, com uma interferência constante nos seus assuntos internos, com um constante fornecimento de armas e de equipamento militar, hipotecando inclusive a suas hipóteses de desenvolvimento futuro pelas destruições ambientais maciças.

Os principais defensores políticos da ordem capitalista mundial apenas desejam fazer uma operação de propaganda e contam para isso com a generosa colaboração dos "ídolos" da música pop-rock, que fazem efectivamente parte da sociedade do espectáculo e são efectivamente beneficiários da ordem mundial injusta. Eles nem sequer questionam essa ordem injusta, apenas estão pedindo para os dirigentes do G8 fazerem um "gesto que alivie" os sofrimentos dos países mais pobres. Nem lhes passa pela cabeça que estão apenas a juntar à humilhação de uns - os expoliados e oprimidos - a alienação de outros; os bem-nutridos filhos e filhas desta civilização do desperdício, que assim "aliviam" a sua consciência, "participando" no tal Live 8.

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1 comentário:

musalia disse...

também concordo. são actos 'bonitos' mas que não resultam como se desejaria...
beijos.