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domingo, junho 17, 2007

Suprema hipocrisia!


Os cinco maiores bancos portugueses têm lucros diários de 8,7 milhões de Euros.

Só o Millennium/BCP soma diariamente lucros superiores a dois milhões de Euros.

Os Bancos portugueses nos primeiros meses deste ano (2007) tiveram mais 21% de lucros do que em igual período do ano passado.

Se fizermos uma poupança e guardarmos o dinheiro nos bancos portugueses, recebemos de juros pouco mais do que 1,5%. A inflação está quase nos 3%. Isso quer dizer que perdemos dinheiro nos bancos, como perdemos poder de compra com os nossos salários, como anos após ano vamos ganhando menos.

O socialismo cavaquista garante aos bancos milhões. A nós rouba-nos os parcos tostões que conseguimos amealhar com o nosso trabalho honrado.
Mas Sócrates está cada vez mais popular e Cavaco Silva, o pai desta criança, diz que os portugueses não devem resignar-se. Suprema hipocrisia!

domingo, junho 10, 2007

10 de Junho


O 10 de Junho é um cadáver que se exuma anualmente para as soturnas comemorações oficiais e o desfile de gatos-pingados.

Os EUA exaltam o 4 de Julho, data da declaração da Independência, e fazem desse dia uma festa nacional. Que melhor razão para celebrar o dia do que o nascimento do país, que promulga uma constituição avançada e declara o direito à felicidade?

A França fez da tomada da Bastilha, em 14 de Julho, o símbolo da liberdade, a festa da Revolução que aboliu as velhas monarquias de direito divino e deu origem às modernas democracias governadas por cidadãos que o voto popular escrutina.

O Estado português escolheu, não a independência, não a glória das descobertas, não a liberdade, mas o óbito de um poeta, singular e grande, é certo, mas a morte, nem sequer o nascimento cuja data e local ignora.

Os EUA e a França festejam a liberdade e o povo exulta, Portugal evoca a morte e os portugueses deprimem-se. O dia 10 de Junho era na ditadura o «Dia de Camões, de Portugal e da Raça». Era um dia de nojo, na dupla acepção, com os carrascos a distribuir veneras pelas viúvas, pais e irmãos dos militares mortos na guerra colonial.

Hoje, em democracia, o dia 10 de Junho apenas perdeu a Raça. É o Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas. E permanecem as homenagens aos mortos adiados, embrulhados numa venera no palco das vaidades.

Portugal tem uma Revolução para comemorar, um dia que fez a síntese do melhor que herdámos do liberalismo e do 5 de Outubro, uma madrugada que emocionou o Mundo e libertou Portugal da mais longa ditadura do Século XX ? o 25 de Abril.

Mas a mórbida evocação dos defuntos é um traço inapagável da nossa identidade.

Portugal prefere o velório à festa, a véspera da perda da independência à alvorada da libertação, a continuidade das cerimónias da ditadura à aurora de todas as liberdades, a missa de aniversário à grandeza épica de Abril.

Portugal prefere viajar de joelhos ao passado a combater de pé pelo futuro.

# um artigo de Carlos Esperança

quarta-feira, junho 06, 2007

UPA - Pra cima!


O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, considerou, por entre um encolher de ombros, que os portugueses "terão" de fazer mais uns sacrificios, nomeadamente quanto ao que já pagam com o crédito à habitação, com mais um aumento das taxas de juro provocada pelo Banco Central europeu. Considera o ministro que aquele banco é uma instituição independente do poder político e, como tal, não há volta a dar e os governos nacionais não se podem meter ...

Ao mesmo tempo que o Banco Central europeu aumenta, mais uma vez, as taxas de juro, o FMI considera também que as taxas devem subir ... se um diz mata o outro diz esfola!...

Este exemplo que é real, espelha bem a Europa dos liberais, a Europa do neo-liberalismo: primeiro as instituições, depois as instituições, ... , muito depois as pessoas! Mas só na perspectiva de que os deveres (transformados em obrigações!) suplantem sempre os direitos ...

Porque é que o Banco Central europeu tem de ser "independente" do poder político? Quem o controla? Os liberais dirão ... o mercado! As pessoas sabem quem manda no mercado ... as empresas!

Veja-se bem com este exemplo, onde e quando é que os europeus controlam democráticamente as políticas da União Europeia ... não controlam nem elegem!

domingo, junho 03, 2007

As duas contradições do capitalismo


Durante muito tempo o socialismo e o ecologismo andaram de costas voltadas. Por um lado, a esquerda demorou a incorporar os novos desafios colocados face à catástrofe ecológica provocada pelo sistema capitalista. Por outro lado, os movimentos ecologistas foram dominados por um pensamento anti-político, como se a “causa verde” estivesse acima da tradicional divisão esquerda-direita. Felizmente, esta situação está a mudar, mas ainda há um longo caminho a percorrer.

A ideia principal do socialismo ecológico, ou do eco-socialismo, foi formulada por James O’Connor: à contradição apontada por Marx entre forças de produção e relações de produção há que acrescentar uma outra entre forças de produção e condições de produção. A primeira contradição do sistema capitalista implica que à acumulação de capital privado subjaz a redução do poder de compra dos pobres. As desigualdades sociais criadas acabam por minar o próprio mercado e teremos uma cada vez maior dificuldade em escoar a crescente produção. A segunda contradição reside no facto de o aumento da produção causar o esgotamento dos recursos disponíveis. O dilema clássico da economia de mercado – satisfazer necessidades ilimitadas com recursos limitados – torna-se, assim, cada vez mais preponderante.

Ambas as contradições foram parcialmente solucionadas pelo imperialismo. O colonialismo deu à burguesia europeia a possibilidade de encontrar novos mercados, além de permitir a redução dos custos de produção pela incorporação de mão-de-obra escrava. O neo-colonialismo refinou este processo ao ponto de anunciar medidas anti-desenvolvimentistas do FMI e do Banco Mundial como sendo parte da ajuda externa, legitimando simultaneamente a exportação da degradação ambiental. Um bom exemplo é o caso do México que exporta petróleo a preços baixos para os EUA para amortizar uma dívida externa que nunca estará saldada, recebendo em troca milho transgénico. A colocação no mercado do milho importado leva, por sua vez, à ruína os camponeses mexicanos. A troca é, portanto, desigual quer do ponto de vista social, quer do ponto de ambiental.

sexta-feira, junho 01, 2007

"Uns" e os outros


Tenho pena da menina e dos pais, mas acredito que com tanto folclore, alguma da pena que podíamos sentir pelos pais já começa a transformar-se em profunda irritação pelo tratamento desigual dado a este caso, em concreto.
Depois das manifestações dos "famosos", pela causa da Madeleine, chegou a vez de serem recebidos pelo não menos famoso Papa. Foram recebidos por Ratzinger, como desejavam. B16 viu-se obrigado a fazer o que não fez aos pais das outras crianças desaparecidas. Recebeu o casal McCann e fez o que sabia: promessas, rezas e bênçãos.
Será que em próximas audiências o Papa irá receber os pais das crianças desaparecidas por esse Mundo fora e abençoar as fotografias de crianças pobres que foram assassinadas ou vendidas como escravas?
Esta é a manifestação suprema da incapacidade em resolver este mistério.
Esta é cereja no topo do bolo da hipocrisia.
Para todos estes famosos, há crianças que valem mais que outras!
Se fossem a apelar por cada um dos desaparecidos neste mundo, não havia tempo para jogar futebol ou dar missas!

sábado, maio 26, 2007

Guerra Junqueiro - actualíssimo


Apesar de escrito em 1896 este texto de Guerra Junqueiro não perde actualidade ao caracterizar a sociedade portuguesa.

Leiam e vejam se não é verdade:

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis.

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este,finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. [.] A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas; Dois partidos [.] sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, [.] vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

Guerra Junqueiro, "Pátria", 1896.

segunda-feira, maio 14, 2007

A praga da canga


É bom atentar para o que o papa diz. Porta-voz de Deus na Terra, ele só pensa pensamentos divinos. Nós, homens tolos, gastamos o tempo pensando sobre coisas sem importância tais como o efeito estufa e a possibilidade do fim do mundo. O papa vai directo ao que é essencial: “O segundo casamento é uma praga!”
Os casamentos, o primeiro, o segundo, o terceiro, pertencem à ordem maldita, caída, praguejada, pós-paraíso. Nessa ordem não se pode confiar no amor. Por isso inventou-se o casamento, esse contrato de prestação de serviços entre marido e mulher. O casamento não é uma celebração do amor, é o estabelecimento de direitos e deveres. Até as relações sexuais são obrigações a ser cumpridas.
O papa está certo. O segundo casamento é uma praga. Eu, como já disse, acho que todos são uma praga. O símbolo dessa maldição está na palavra “conjugal”: do latim, “com”= junto e “jugus”= canga. Canga, aquela peça pesada de madeira que une dois bois. Eles não querem estar juntos. Mas a canga obriga-os, sob pena do ferrão…
Para haver segundo casamento, é preciso que o primeiro seja anulado pelo divórcio. Permitir o divórcio equivale a dizer: o sacramento é uma balela. Donde, a igreja é uma balela… Com o divórcio ela seria rebaixada do seu lugar infalível e passaria a ser apenas uma instituição falível entre outras. A igreja, sábia, tratou de livrar os seus funcionários da maldição do amor. Proibiu-os de se casarem.

Hoje, a questão que se põe é porquê manter um casamento contra a vontade de uma das partes, a necessidade do mútuo acordo. Se a vontade dos cônjuges é indispensável para originar o casamento, não se compreende que ele possa manter-se contra a vontade de uma das partes. Começa a não caber na cabeça das pessoas que seja necessário invocar a violação dos deveres para solicitar o divórcio.
Há já uma série de situações que desvalorizam o casamento como instituição. O único motivo que deve bastar para originar o divórcio é a vontade expressa de um dos cônjuges, ou dos dois, o casamento deve adaptar-se às mudanças sociais e ser entendido como "um encontro de duas liberdades".

sábado, maio 05, 2007

Um cadáver no prato


"Tenho um animal morto no meu prato!", assim exclamou um amigo, filho de emigrantes portugueses nos EUA, após regressar ao país e lhe servirem um robalo grelhado num restaurante de Peniche. Nos EUA este amigo habituou-se a comer comida embalada em caixinhas, café fechado em goblets de cartão, queijos coloridos e sem cheiro, croquetes de todos os tipos de carne moída com formazinhas do Mickey e de peixinhos iguais aos desenhos da escola primária, pipocas da cor dos marcadores fluorescentes da Stabilo e bolachas com pepitas de morango, mas sem morango, pepitas feitas de pequenas gomas vermelhas com aroma artificial a morango.

Nos EUA ninguém proibiu que se coma peixe grelhado, que se veja a cor do café, que se toque num grão de milho ou que se comam morangos frescos, mas na realidade a "mão invisível" da religião do Mercado encarregou-se de que a esmagadora maioria dos americanos já não saiba o que de facto come. Sabem que comem marcas, que comem coisas trituradas, depois enformadas e coloridas como nos filmes da Disney e de Hollywood, sabem o número dos menus do restaurante X e a cor do "queijo" (em geral são emulsões lácteas e não queijo) que sai fora da sanduíche do menu Y.

Na prática, a ideologia do ultraliberalismo, da mão invisível responsável pela alienação alimentar da maior parte dos americanos (os mais pobres), é muito mais proibitiva, sem proibir, do que os preconceitos alimentares religiosos comuns às religiões do livro (os católicos também os têm). É particularmente uma ideologia mais proibitiva do que o Islão. Na verdade, e apesar da diferença de níveis de vida, em média, a alimentação de um muçulmano é muito mais variada do que a alimentação de um americano. Se deixássemos, seria essa alimentação "americana" que a Europa teria à mesa "daqui a uns anos", nada de peixes mortos no prato, nem queijos que cheiram mal, nem legumes crus, tudo seria servido em caixinhas da Disney, com histórias dos sobrinhos do Mickey. Dos sobrinhos, obviamente! É que as criancinhas poderiam ficar chocadas se fossem filhos do Mickey. Como é que se iria depois explicar que o Mickey tem um pénis a Minie uma vagina que servem para copular e ter filhos?

terça-feira, maio 01, 2007

O "Proletariado" dá lugar ao "Precariado"

A precariedade invade todas as áreas da vida e é mais completa entre os mais novos: desempregados e contratados a prazo, bolseiros, estudantes-trabalhadores (já/ainda/quase), imigrantes, etc...
Sair de casa dos pais, ter um filho, aguentar uma renda ou um empréstimo, são coisas simples que se transformam em grandes riscos.
O trabalho precário nem sempre é pago. É quase sempre mal pago. O patrão que emprega raramente é o que contrata: as empresas de trabalho temporário multiplicam-se, crescem e exibem lucros milionários. Nelas, o salário é mais curto, o contrato pode acabar sem aviso e nem sempre deixando subsídio de desemprego.
A luta do Século XXI é pelo direito a trabalhar sem chantagem e a um mínimo de independência e conforto. Ninguém quer passar o resto da vida a pensar como pagar a próxima conta e a fazer malabarismos com três trabalhos precários.

Sempre a abrir

A Internacional



De pé, ó vitimas da fome!
De pé, condenados da terra!
Da ideia a chama já consome
A crosta bruta que a soterra.
Cortai o mal bem pelo fundo!
De pé, de pé, não mais senhores!
Se nada somos neste mundo,
Sejamos tudo, oh produtores!

Bem unidos façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Bem unidos façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional


Senhores, patrões, chefes supremos,
Nada esperamos de nenhum!
Sejamos nós que conquistemos
A terra mãe livre e comum!
Para não ter protestos vãos,
Para sair desse antro estreito,
Façamos nós por nossas mãos
Tudo o que a nós diz respeito!

Bem unidos façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Bem unidos façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional


Crime de rico a lei cobre,
O Estado esmaga o oprimido.
Não há direitos para o pobre,
Ao rico tudo é permitido.
À opressão não mais sujeitos!
Somos iguais todos os seres.
Não mais deveres sem direitos,
Não mais direitos sem deveres!

Bem unidos façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Bem unidos façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional


Abomináveis na grandeza,
Os reis da mina e da fornalha
Edificaram a riqueza
Sobre o suor de quem trabalha!
Todo o produto de quem sua
A corja rica o recolheu.
Querendo que ela o restitua,
O povo só quer o que é seu!

Bem unidos façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Bem unidos façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional


Nós fomos de fumo embriagados,
Paz entre nós, guerra aos senhores!
Façamos greve de soldados!
Somos irmãos, trabalhadores!
Se a raça vil, cheia de galas,
Nos quer à força canibais,
Logo verrá que as nossas balas
São para os nossos generais!

Bem unidos façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Bem unidos façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional


Pois somos do povo os activos
Trabalhador forte e fecundo.
Pertence a Terra aos produtivos;
Ó parasitas deixai o mundo
Ó parasitas que te nutres
Do nosso sangue a gotejar,
Se nos faltarem os abutres
Não deixa o sol de fulgurar!

Bem unidos façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Bem unidos façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional

sábado, abril 28, 2007

Cavaco não gosta de cravos

Uma das coisas que tenho visto é imensa gente que detesta o 25 de Abril muito preocupada com a falta de renovação das comemorações do 25 de Abril. E se a simbologia é importante em comemorações, gostava de ter visto Cavaco com um cravo ao peito. Não é obrigado, claro. Mas fico a imaginar que tipo de comemoração quer, em que o mais básico e consensual da simbologia da data o incomoda.
Não vejo melhor momento que as comemorações do 25 de Abril para convidar a sociedade portuguesa a debater a qualidade da democracia que se conquistou: uma democracia em que grande parte da população prescinde do direito de votar, uma democracia em que os tribunais funcionam apenas para os ricos, uma democracia em que a transparência não existe (desde a nomeação para cargos públicos à execução das leis), enfim uma democracia onde a fraca aposta na educação parece continuar a impedir os cidadãos de exigirem mais e melhor dos seus políticos e já agora dos seus jornalistas.
O 25 de Abril é um óptimo momento para convidar as pessoas a avaliar a força da democracia que se quer comemorar e já agora explicar à juventude que se não quiser participar na vida política, outros o farão por ela e com consequências para todos.
Com a revolução tecnológica, com os blogues incluídos , a esfera pública da política está ao alcance de praticamente qualquer um, o que é francamente positivo para a democracia. E que os 25 de Abril que hão-de vir, sirvam também para explicar a mais e a mais pessoas que a sua participação na vida política é essencial e que apesar do 25 de Abril ser do Povo e da rua, agora até é possível fazê-lo a partir de um simples computador pessoal.
Que Abril seja, ainda e sempre, mais do que memória e simbolismo. Antes de Cavaco. Depois de Cavaco. Sem Cavaco.

terça-feira, abril 24, 2007

25 de Abril Sempre

Muita coisa se alterou com o 25 de Abril de 1974.
Mas, a mudança não se efectuou num dia. Foi preciso tempo, empenho, coragem e sacrifícios de muitas pessoas para construir um país diferente onde Liberdade, Solidariedade e Democracia não fossem apenas palavras. Ao longo deste caminho, construíram-se partidos e associações, foi garantido o direito de expressão e realizaram-se eleições livres. Vivemos em Democracia.Terminou a guerra colonial, e as antigas colónias portuguesas tornaram-se independentes. Vivemos em paz.Os Açores e a Madeira são hoje Regiões Autónomas, com orgãos de governo próprio. A Constituição garante os direitos económicos, jurídicos e sociais dos cidadãos.Hoje, podemos falar livremente, dizer aquilo com que concordamos e o que não apoiamos, integrar associações, viver num novo Espaço Europeu e ter acesso directo ao Mundo sem receio de censura ou perseguições.
Os trabalhadores portugueses alcançaram importantes conquistas e adquiriram um valioso conjunto de direitos, até então negado, que constituem um património da nossa democracia e fundamentos do regime constitucional: a liberdade sindical e os direitos sindicais; o direito de reunião e de manifestação; o direito de greve; o direito de negociação colectiva; a constituição de comissões de trabalhadores; a institucionalização do salário mínimo; a generalização do 13º mês; o direito a um mês de férias e respectivo subsídio; a democratização do ensino; a universalização do direito à segurança social e à saúde; a generalização das pensões de reforma e do subsídio de desemprego; a participação em múltiplos órgãos e organismos do Estado.
As conquistas do 25 de Abril estão de tal modo inseridas no quotidiano que mal se dá por elas.As mulheres foram reconhecidas como cidadãs de plenos direitos: têm acesso a todas as profissões, podem votar, ter contas bancárias, possuir passaporte e sair do país sem autorização escrita dos maridos, o que antes da revolução de 1974 era impensável. Foram abolidas as certidões de bom comportamento moral e cívico e as informações da polícia necessárias a quem deseje obter certos empregos.
Temos uma democracia avançada em termos político-constitucionais, mas não temos uma sociedade avançada no plano económico e social. Continua-se a insistir num modelo de crescimento baseado na mão-de-obra barata; confrontamo-nos com um violento ataque aos sistemas públicos da segurança social, da saúde e do ensino; enfrentamos uma feroz ofensiva, conduzida principalmente pelos últimos Governos, contra os direitos dos trabalhadores; cresce o desemprego e a precariedade do trabalho.
Hoje, 33 anos depois, quando nos confrontamos ainda com tantos problemas sociais e grandes dificuldades para afirmar um desenvolvimento que nos aproxime, de forma segura, dos nossos parceiros europeus e quando estamos perante um quadro em que os melhores valores e ideais da humanidade são postos em causa pela globalização capitalista, afirmar Abril, é um objectivo que deve estar presente, todos os dias, na nossa acção.

Sem preconceitos nem complexos...

Apesar do percurso político, polémico, do Comandante Operacional do "25 de Abril", é impossível falar do sucesso da Revolução dos Cravos, sem reconhecer a generosidade e a bravura dos Capitães de Abril, nomeadamente de "Oscar", nome de código de Otelo Saraiva de Carvalho.
Impõe-se, nesta data, relembrar os genuinos obreiros de Abril, aqueles que, dispostos a morrer, enfrentaram as forças fieis ao regime, derrotando-as sem derramamento de sangue e ganhando o imediato apoio do Povo.