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segunda-feira, maio 14, 2007

A praga da canga


É bom atentar para o que o papa diz. Porta-voz de Deus na Terra, ele só pensa pensamentos divinos. Nós, homens tolos, gastamos o tempo pensando sobre coisas sem importância tais como o efeito estufa e a possibilidade do fim do mundo. O papa vai directo ao que é essencial: “O segundo casamento é uma praga!”
Os casamentos, o primeiro, o segundo, o terceiro, pertencem à ordem maldita, caída, praguejada, pós-paraíso. Nessa ordem não se pode confiar no amor. Por isso inventou-se o casamento, esse contrato de prestação de serviços entre marido e mulher. O casamento não é uma celebração do amor, é o estabelecimento de direitos e deveres. Até as relações sexuais são obrigações a ser cumpridas.
O papa está certo. O segundo casamento é uma praga. Eu, como já disse, acho que todos são uma praga. O símbolo dessa maldição está na palavra “conjugal”: do latim, “com”= junto e “jugus”= canga. Canga, aquela peça pesada de madeira que une dois bois. Eles não querem estar juntos. Mas a canga obriga-os, sob pena do ferrão…
Para haver segundo casamento, é preciso que o primeiro seja anulado pelo divórcio. Permitir o divórcio equivale a dizer: o sacramento é uma balela. Donde, a igreja é uma balela… Com o divórcio ela seria rebaixada do seu lugar infalível e passaria a ser apenas uma instituição falível entre outras. A igreja, sábia, tratou de livrar os seus funcionários da maldição do amor. Proibiu-os de se casarem.

Hoje, a questão que se põe é porquê manter um casamento contra a vontade de uma das partes, a necessidade do mútuo acordo. Se a vontade dos cônjuges é indispensável para originar o casamento, não se compreende que ele possa manter-se contra a vontade de uma das partes. Começa a não caber na cabeça das pessoas que seja necessário invocar a violação dos deveres para solicitar o divórcio.
Há já uma série de situações que desvalorizam o casamento como instituição. O único motivo que deve bastar para originar o divórcio é a vontade expressa de um dos cônjuges, ou dos dois, o casamento deve adaptar-se às mudanças sociais e ser entendido como "um encontro de duas liberdades".

2 comentários:

Anónimo disse...

É pá até percebo que tenhas tanta coisa contra o casamento...e mais não digo, mas olha que já te vi ter outra opinião, aí há uns anitos atrás...

vermelhofaial disse...

É a experiência da vida. A reincidência. O conhecimento de causa, pode dizer-se.
A propósito e numa altura em que deserto e camelos estão na ordem do dia, lembro-me duma história:
Um dia um pai acompanha um filho ao Jardim zoológico e este pergunta: Oh pai, que animal é este? É um camelo, meu filho. E aquele ali? É a mulher do camelo, meu filho. Então os camelos também se casam? Sim, meu filho todos os camelos se casam.