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quinta-feira, janeiro 05, 2012

QUESTIONANDO "O TRABALHO"

Pode dizer-se: és o que fazes. Se fazes um trabalho bruto, chato, idiota ou monótono..., DESPERTA!
O trabalho é uma explicação muito melhor para a crescente cretinização que nos cerca do que até mesmo mecanismos claramente imbecilizadores como a televisão e a educação. Pessoas que são arregimentadas por toda a vida, entregues ao trabalho pela escola e delimitadas pela família no início e pelo asilo no fim, estão acostumadas à hierarquia e escravizadas psicologicamente. A preparação para a obediência no trabalho contamina as famílias que elas criam, gerando assim outras formas de reprodução do sistema, e contamina igualmente a política, a cultura e tudo o mais, quando se drena a vitalidade das pessoas no trabalho, elas ficam predispostas a se submeter à hierarquia e à especialização em tudo. Estão educadas para isso.
Sócrates (o outro) dizia que trabalhadores braçais são maus amigos e maus cidadãos porque não tem tempo de cumprir as responsabilidades da amizade e da cidadania. Ele tinha razão. Por causa do trabalho, não importa o que estejamos fazendo, estamos sempre olhando para o relógio. O tempo livre é dedicado principalmente a se preparar para o trabalho. Cícero disse que "quem troca a sua força de trabalho por dinheiro vende-se e coloca-se na classe dos escravos".
O que se disse até agora não deveria causar controvérsias. Muitos trabalhadores estão fartos do trabalho. Há índices altos e crescentes de faltas, rotatividade, baixas fraudulentas, greves e absentismo no trabalho. E, no entanto, a sensação que prevalece, universal entre chefes e seus agentes e também difundida entre os próprios trabalhadores, é que o trabalho é inevitável e necessário.
Podemos discordar. É possível abolir o trabalho e substituí-lo, nos casos em que ele tem finalidades úteis, por uma variedade de novos tipos de actividades livres. Abolir o trabalho requer atacá-lo em duas frentes, a quantitativa e a qualitativa. Por um lado, o lado quantitativo, precisamos cortar de forma maciça a quantidade de trabalho que está sendo feito. Actualmente, a maior parte do trabalho é inútil ou coisa pior, e deveríamos simplesmente acabar com ela. Por outro lado - e acho que essa é a parte crucial e a novidade revolucionária -, precisamos pegar no trabalho que permanece útil e transformá-lo numa variedade de passatempos lúdicos e artesanais, indistinguíveis de outros passatempos prazeirosos excepto pelo facto de que resultam em produtos finais úteis. Certamente isso não os deveria tornar menos atraentes. Aí, todas as barreiras artificiais do poder e da propriedade poderiam cair. A criação poderia tornar-se recreação. E todos poderíamos parar de sentir medo uns dos outros.
De: A Abolição do TrabalhoBob Black

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