Pode dizer-se: és o que fazes. Se fazes um trabalho bruto,
chato, idiota ou monótono..., DESPERTA!
O trabalho é uma explicação muito melhor para a crescente
cretinização que nos cerca do que até mesmo mecanismos claramente
imbecilizadores como a televisão e a educação. Pessoas que são arregimentadas
por toda a vida, entregues ao trabalho pela escola e delimitadas pela família
no início e pelo asilo no fim, estão acostumadas à hierarquia e escravizadas
psicologicamente. A preparação para a obediência no trabalho contamina as
famílias que elas criam, gerando assim outras formas de reprodução do sistema, e
contamina igualmente a política, a cultura e tudo o mais, quando se drena a
vitalidade das pessoas no trabalho, elas ficam predispostas a se submeter à
hierarquia e à especialização em tudo. Estão educadas para isso.
Sócrates (o outro) dizia que trabalhadores braçais são maus
amigos e maus cidadãos porque não tem tempo de cumprir as responsabilidades da
amizade e da cidadania. Ele tinha razão. Por causa do trabalho, não importa o
que estejamos fazendo, estamos sempre olhando para o relógio. O tempo livre é dedicado
principalmente a se preparar para o trabalho. Cícero disse que "quem troca
a sua força de trabalho por dinheiro vende-se e coloca-se na classe dos
escravos".
O que se disse até agora não deveria causar controvérsias.
Muitos trabalhadores estão fartos do trabalho. Há índices altos e crescentes de
faltas, rotatividade, baixas fraudulentas, greves e absentismo no trabalho. E,
no entanto, a sensação que prevalece, universal entre chefes e seus agentes e
também difundida entre os próprios trabalhadores, é que o trabalho é inevitável
e necessário.
Podemos discordar. É possível abolir o trabalho e
substituí-lo, nos casos em que ele tem finalidades úteis, por uma variedade de
novos tipos de actividades livres. Abolir o trabalho requer atacá-lo em duas
frentes, a quantitativa e a qualitativa. Por um lado, o lado quantitativo,
precisamos cortar de forma maciça a quantidade de trabalho que está sendo
feito. Actualmente, a maior parte do trabalho é inútil ou coisa pior, e
deveríamos simplesmente acabar com ela. Por outro lado - e acho que essa é a
parte crucial e a novidade revolucionária -, precisamos pegar no trabalho que
permanece útil e transformá-lo numa variedade de passatempos lúdicos e
artesanais, indistinguíveis de outros passatempos prazeirosos excepto pelo
facto de que resultam em produtos finais úteis. Certamente isso não os deveria
tornar menos atraentes. Aí, todas as barreiras artificiais do poder e da
propriedade poderiam cair. A criação poderia tornar-se recreação. E todos
poderíamos parar de sentir medo uns dos outros.
De: A Abolição do Trabalho - Bob Black