Segundo vários indicadores, os preceitos da religião
tradicional são irrelevantes para a maioria da população. Nos casamentos, a
cerimónia religiosa é escolha minoritária. Os jovens casais, frequentemente,
nem se casam (duas em cinco crianças nascem de pais solteiros). O divórcio
banalizou-se. A frequência da missa diminui. Nas escolas, os alunos fogem da
Religião e Moral depois da puberdade.
E no entanto, talvez por não terem interiorizado que a
sociedade se secularizou (e muito), os governos (de «direita» e de «esquerda»)
tratam a Igreja Católica como se representasse ainda uma fracção preponderante
do país. Recentemente, assistiu-se ao ridículo de o governo da República
«negociar» com essa igreja o fim de feriados civis (algo a que a Concordata nem
obriga). Essa mesma igreja mantém os seus privilégios imunes à «austeridade»,
agravando o paradoxo da secularização sem laicização.
O fim da devolução do IVA, da isenção de pagamento de IMI (falamos do maior proprietário privado nacional) ou dos subsídios autárquicos à construção e manutenção de templos faria mais pela redução do défice que algumas medidas, socialmente gravosas, que estão a ser tomadas. Ao contrário de um mito urbano persistente, a «assistência social» atribuída à Igreja Católicanão seria afectada: essas são outras contas.
http://www.ionline.pt/opiniao/paradoxo-agravado
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