Pesquisar neste blogue
sexta-feira, abril 30, 2010
domingo, abril 25, 2010
25 de Abril Sempre!
segunda-feira, abril 12, 2010
Dividir para reinar ou "o Rei vai nu"
Passos Coelho virou as baterias contra os pobres e os desempregados. As crises sempre ajudaram a convencer quem nada tem que a culpa é do seu vizinho. E que cada direito conquistado no século passado não passa de um privilégio.
No momento em que vamos sabendo quanto ganham em prémios, em plena crise, gestores de topo de empresas participadas pelo Estado, Passos Coelho virou as suas baterias contra aqueles que, invariavelmente, são tratados como parasitas: os que menos têm. É natural que assim seja: pôr na ordem os rendimentos de António Mexia é bem mais difícil e arriscado do tratar os desempregados como suspeitos.
Passos Coelho não precisou de mais do que 15 dias para usar a mais fácil das receitas: alimentar o ressentimento contra as principais vítimas da crise. No Congresso do PSD, onde se juntaram tantos candidatos a boys ansiosos pelo regresso do poder, explicou que aqueles que recebem subsídios têm de retribuir com trabalho para comunidade (ONG's, juntas de freguesia, etc).
Vou tentar explicar isto devagarinho: aqueles que recebem, por exemplo, o subsídio de desemprego são os mesmos que pagaram as suas prestações à segurança social. Eles deram a sua parte. O que recebem não é nem uma esmola nem um favor. É um direito. Um direito pelo qual pagaram ao longo dos seus anos de trabalho e descontos. O dinheiro não é nem de Sócrates, nem de Passos Coelho, nem das juntas de freguesia ou ONG's onde os querem pôr de castigo. É deles. Foi pago por eles. Eles são a sociedade que deu e que agora recebe. Que foi solidária e que agora precisa da solidariedade. Não são criminosos condenados a "trabalho para a comunidade".
Há uns dias, num desses fora televisivos em que os cidadãos dizem de sua justiça, um desempregado gritava contra os privilégios dos funcionários públicos que "não sabem o que é trabalhar". Uns minutos depois, um funcionário público, irado, perguntava ser seria justo que um desempregado, "que está em casa sem fazer nada", recebesse os mesmos 600 euros que ele, que todos os dias tem de fazer pela vida.
É assim que estes senhores, de Paulo Portas a Pedro Passos Coelho, querem os cidadãos: a esgatanharem-se pelas migalhas que sobram. Convencidos que a culpa da sua miséria é do miserável que mora ao lado. E um dia destes, convencidos que culpa da sua miséria é deles próprios.
Assim, entretidos uns com outros, não põem em causa os fundamentos da desigualdade social neste país. Assim, espalhando as culpas pelas aldeias, estaremos todos dispostos a exigir menos. A olhar para os direitos que demorámos décadas a conquistar como privilégios. Prontos para sermos aliados de quem quer destruir esses direitos em vez de lutarmos pelos nossos.
Por mim, sei o que a história nos ensinou: que dividir para reinar sempre foi a melhor estratégia. E que a ela só se resiste percebendo que aqueles que vivem do seu trabalho só têm uma força que os salve: a que toma cada ataque a um direito de alguém da sua condição como um ataque a si próprio.
A função do discurso contra os supostos "direitos adquiridos" (que se deviam chamar "direitos conquistados") é simples: transportar o trabalhador de novo para o século XIX. Mas talvez quando voltarmos todos a trabalhar à jorna e nada nos segurar no desespero do desemprego voltemos a perceber quem são realmente os privilegiados.