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sábado, agosto 15, 2009

Esquerda Volver!

Ser "só" voto de protesto, ser ou não Governo, o que é afinal a tal alternativa de esquerda?

Com o aumento da votações nos partidos à esquerda do PS, nas eleições europeias, alguns chamados opinion makers (sempre os mesmos e sempre ligados ao centrão...) têm vindo a alertar para aquilo que eles consideram como um problema de "ingovernabilidade" se aquele aumento dos votos se mantiver nas próximas eleições legislativas.

No entanto, da parte das esquerdas, incluindo a esquerda do PS, as soluções pós-eleitorais permanecem algo confusas aos olhos das pessoas. Nunca se sabe se estarão, as esquerdas, disponíveis para uma solução de convergência governativa que se torne alternativa a uma direita que já reafirmou que se poderá voltar a coligar e também alternativa à solução da direcção sócratica do PS que continua, algo alheada da realidade, a pedir nova maioria absoluta.

O certo é que, neste país que passou por um processo revolucionário com contornos socializantes, nunca houve uma proposta de solução governativa à esquerda. E seria bom ter presente: para os trabalhadores e para as pessoas que sofrem as consequências da crise económica capitalista, o que é mais importante: votar para se ser oposição ou votar para um governo com novas e outras políticas de sentido democrático e socialista? Afinal são as políticas governativas que acabam sempre por condicionar a vida das pessoas...

Desde o 25 de Abril de 1974, o resultado na maior parte das eleições apontou sempre para maiorias dos partidos formalmente de esquerda representados na Assembleia da República. No entanto, essas maiorias nunca tiveram correspondência ao nível dos governos e muito menos ao nível das políticas globais executadas por esses governos. O que cria sempre uma sensação de inutilidade do voto popular exercido, com consequente reflexo no engrossar dos abstencionistas nas eleições seguintes.

As esquerdas nunca tiveram o seu governo. As esquerdas só conseguiram governos PS com políticas conhecidas por serem aquelas que a direita executaria se fosse, ela mesma, Governo!

As direitas já tiveram os seus governos e não adiaram a execução de políticas de direita e de ataque a conquistas politicas e sociais decorrentes da revolução de Abril.

Porque será que a direita consegue governos com políticas de direita e as esquerdas só conseguem governos do PS com políticas de direita?

É aqui que convém falar na existência de uma maioria social de esquerda que nunca conseguiu reflectir a sua existência, na concretização de um Governo das esquerdas.

A maioria social de esquerda existiu, por exemplo, quando o eleitorado deu a maioria absoluta ao PS de Sócrates CONTRA o que tinham sido os governos de Barroso, Portas e Santana Lopes. No entanto, a direcção do PS não só esqueceu essa maioria social, como adoptou uma posição de virar de costas às outras esquerdas representadas no Parlamento.

Um Governo que emergisse de uma maioria social de esquerda é um Governo que tem de acolher o contributo político de todos os partidos e movimentos com representatividade à esquerda. É um Governo que não busca somente estabilidade por via de uma maioria aritmética parlamentar, mas que consegue definir um programa com políticas que afirmem a alternativa de democracia e socialismo contra o capitalismo e a sua economia de mercado.

Um Governo de convergência das esquerdas tem também de emergir de um processo democrático e social de participação por parte de cidadãos, de grupos sociais, de organizações dos trabalhadores, de organizações de defesa do ambiente, ou seja, supera a mera negociação entre direcções partidárias, embora esta negociação tem também inevitavelmente de ocorrer.

É um processo difícil. É, sim senhor! Mas a conseguir-se, seria, sem dúvida um passo político com reflexos importantíssimos no retorno à capacidade de mobilização popular para transformações políticas, sociais, económicas e culturais com um sentido democrático e socialista.

Autor: João Pedro Freire

8 comentários:

Anónimo disse...

O povo ainda se lembra o que foram as acções da esquerda em Portugal - Ocupações de empresas e de edifícios, sequestros, controles de estrada, ameaças bombistas, tentativas de controlo de ramos das forças armadas, controlo de jornais por meio de "saneamentos" (ou despedimentos forçados), etc.
Se agora estamos mal, ainda ficaria tudo bem pior (menos para os cabecilhas, claro, que a Lenine nunca devem ter faltado bifes!)

Mário Moniz disse...

O Povo Anónimo parece que se esqueceu do obscurantismo salazarista, das execuções pela calada da noite, da tortura nas prisões, da carne para canhão do ultramar, do ensino só para alguns, de ter que se inscrever da PIDE para poder ser funcionário público de chefia, de ter que marchar na Mocidade Portuguesa para poder ir para a Universidade...
Quer mais?

Anónimo disse...

Não fique incomodado!Claro que não me esqueci da longa noite do Estado Novo, nem a defendi em momento algum, mas um erro, nunca serviu de contra-veneno para outro. Também não me esqueci do muro de Berlim,dos Gulags,dos regimes de partido único na antiga URSS, e ainda hoje na China, na Coreia do Norte, ou em Cuba, se nós não tivemos essa realidade em Portugal, na mimha opinião foi uma sorte, não lhe peço que pense como eu, mas a democracia é algo que não desejo apenas para o meu país, mas considero que todos os povos têm o direito a aceder a ela, mas como lhe digo, não lhe peço que pense como eu.

Mário Moniz disse...

Para quem considera um simples erro o que se passou em Portugal, está tudo dito.
Quanto aos regimes citados, estão bem uns para os outros: o nome da mosca muda, as atitudes são as mesmas, concentração do poder e da riqueza apenas num pequeno grupo de privilegiados, não olhando a meios para atingir fins. Ser contra o fascismo não implica ser a favor de regimes como a China ou a Coreia do Norte, antes pelo contrário.
E, não, nunca pensarei Anónimo.

Anónimo disse...

Mas onde é que leu no meu comentário que considerava " um simples erro o que se passou em Portugal"? Nunca fiz tal afirmação, conforme poderá verificar, com uma leitura mais atenta e menos apaixonada,a não ser que tenha tido dificuldades de leitura, para o que me resta recomendar a Óptica Faialense, disse sim que se trataram de dois erros, sem no entanto os quantificar.
Quando afirma "Quanto aos regimes citados, estão bem uns para os outros", posso concluir que a posição oficial do BE, é contrária aos regimes da China, da Coreia do Norte, e de Cuba,por mim referidos? Parem as rotativas nos jornais! Aqui afinal faz-se história!

Mário Moniz disse...

O simples, foi meu pelo facto de ter sido indelevelmente referido. Fico satisfeito por me dizer que não foi essa a intenção.
Por acaso estou a necessitar de mudar de óculos, mas não foi essa a causa e a leitura foi atenta (mas não vale aproveitar para fazer publicidade comercial). Porém, por vezes é necessário "espicaçar" para que o interlocutor sinta o quanto as inverdades são nocivas ao bom entendimento.
Relativamente ao "saco", não é novidade, nem as rotativas têm necessidade de parar. Têm sim necessidade de imprimir a verdade que, demasiadas vezes, é contornada de forma abjecta.
Eu faço o possível por ler as teses do próprios adversários políticos. Detesto falar pelo que me dizem, vulgo "emprenhar pelos ouvidos". Para que possa ter uma ideia do que pensamos sobre Chinas, Coreias, Angolas e outros que tais, fica um link com um artigo de opinião sobre a posição oficial do BE, com comentários a favor e contra para que possa ficar bem elucidado:
http://www.esquerda.net/index.php?option=com_content&task=view&id=13093&Itemid=130

Cumprimentos

Anónimo disse...

Embora não possa concordar que em algum momento eu tenha referido, de forma implícita ou explícita que o Estado Novo se tratou de um simples erro, ultrapassemos isso.
Para mais tenho-o por um homem sério, que tal como eu se preocupa com os problemas do Faial, que cada vez mais me parece abandonado à sua sorte.
Não veja em mim um adversário, e muito menos, veja no meu parco texto,um valor que o mesmo não possui.
Não temos a mesma opção política, é certo, mas respeito o seu trabalho.

Cumprimentos

Mário Moniz disse...

Agradeço a referência à forma como faço todo o possível por estar em sociedade e de como tenho pautado a minha vida.
Mesmo com quem tenha opções politico-ideológicas diferentes, estou sempre pronto a participar no que de comum possa unir esforços na luta pelo progresso desta ilha e pelo bem estar de quem nela habita.