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sábado, janeiro 27, 2007

10 Razões para votar "SIM"


Antes de mais devo esclarecer que uso a palavra aborto sem preconceitos, é-me indiferente que lhe chamem aborto, IVG ou mesmo o termo mais usado pelo povo que é desmancho. Sou contra o aborto e quero que sejam feitos no menor número possível. A realidade é que o aborto clandestino não só é um mal condenável como deve ser combatido com firmeza e neste momento o debate já não está entre a vida e a morte, o haver ou não abortos, o que os partidários do "Não" têm vindo a dizer é que o aceitam e não querem prender as mulheres, desde que seja mantido na clandestinidade.

Deixo aqui as dez razões que me levam a votar "Sim" no referendo:

1 - Porque os partidários do “Não” estiveram tempo suficiente no poder para fazerem prova da sinceridade das suas propostas.

2 - Porque as leis são para aplicar e se for mantida uma pena de prisão é essa que os juízes devem aplicar. A solução do “Nim” apenas serve para liberalizar o aborto clandestino.

3 - Porque os custos psicológicos e físicos de um abordo clandestino, perseguido judicialmente e condenado socialmente são infinitamente maiores.

4 - Porque se os custos do aborto clandestino forem todos contabilizados (custos administrativos da polícias e tribunais, custos do tratamentos no SNS, perdas de horas de trabalho, etc.) são superiores ao do legal.

5 - Porque não me cabe a mim condenar uma decisão que à mulher diz respeito e muito menos impor as minhas convicções éticas ou religiosas não aceites pela generalidade da sociedade como padrão do direito penal.

6 - Porque o aborto clandestino estimula a criminalidade e favorece a evasão fiscal. Admitir o aborto clandestino ao sugerir que se mantenha a lei e fechem os olhos é alimentar o mercado paralelo da saúde.

7 - Porque desejo que o aborto clandestino seja combatido sem que as vítimas desse combate sejam as mesmas vítimas dessa má solução.

8 - Porque considero que manter a lei à custa da sua ineficácia serve para estimular o aborto mantendo-o à margem da sociedade.

9 - Porque é mais fácil tratar problema no SNS do que fazendo de conta que não existe. É mais fácil ajudar uma mulher atendendo-a no SNS do que mandando-a para a clandestinidade ou sugerindo-lhe que se dirija às instituições de caridade (onde muito dos partidários do “Não” usam para redimir os seus pecados).

10 - Porque não quero que o meu voto seja uma sentença condenatória para mulheres que não tenho o direito de mandar para a prisão, e muito menos que essa prisão sirva apenas para meu conforto condenando pessoas que não conheço em função dos meus conceitos e preconceitos religiosos. Quem sou eu para atirar a primeira pedra?

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Poema pelo "SIM"


De meu tenho este corpo de mulher.
Minhas as mãos
Minha a cabeça
E as pernas
E o ventre
E o sexo.
Tudo o que no meu corpo tenho
Fora e dentro.
É meu!
Minha é a escolha do corpo bem ou mal tratar,
Minha é a liberdade de o viver,
Ou do corpo não querer
Mais a vida e o respirar.
Meu é o sexo
E minha a liberdade de amar rejeitando a concepção.
Porque meu o corpo
E minha a decisão
Do que quero do meu corpo fazer.
Se eu cortar um braço.
Alguém me penaliza?
Se eu cortar uma perna.
Alguém o desautoriza?
Alguém legisla sobre pernas e braços e outras partes do corpo que é meu?
Recuso que o meu corpo seja discutido!
Recuso que o meu corpo seja debatido!
Recuso que o meu corpo seja ofendido
Violado e limitado
Por discursos demagógicos e humilhantes
E ofensivas ameaças de prisão.
Sobre o meu corpo ninguém legisla!
Só eu!
Minha é a escolha de conceber e criar
Ou de recusar
Que um óvulo me cresça dentro.
Porque meu o ventre!
Meu o corpo!
Minha a vida!
Minha a decisão!
E minha a liberdade
De parir ou não!
...
Se eu cortar um braço
Alguém me penaliza?
Se eu me maltratar
Vou para a prisão?


escrito por encandescente

sábado, janeiro 13, 2007

Demagogia barata



Este folheto vergonhoso é apenas uma pequena amostra da campanha de intimidação, completamente sem argumentos e, espero eu, contraproducente da Igreja Católica.
De facto, ao restringir-se estritamente a argumentos religiosos torna-se óbvio para todos que vamos referendar apenas um dogma religioso, que não há uma única razão objectiva - científica, biológica, ética ou de Direito - para criminalizar o aborto.
Só nos países em vias de desenvolvimento ou sub-desenvolvidos encontramos teocracias e sociedades que não reconhecem a mulher como um ser humano de plenos direitos. A construção de um Portugal melhor passa pelo resultado do referendo: a vitória do SIM será igualmente a vitória do Portugal moderno!

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Ele há cada uma!

Paulo Macedo, director-geral dos Impostos e quadro do BCP, banco do Opus Dei, que aufere de um vencimento bruto superior a 23 mil euros, encomendou uma missa, supostamente de acção de graças pela DGCI e pelos seus funcionários, para que todos - independentemente da confissão ou falta dela - foram convocados. A cerimónia realizou-se anteontem, às 18 horas e 30 minutos, na Sé de Lisboa.
Fontes bem informadas dizem, que a verdadeira intenção é pedir a intercepção divina no sentido de fazer descer o Espírito Santo sobre as cabeças do Sócrates e o do Ministro das Finanças, por forma a encontrarem uma solução que mantenha o Paulinho das Missas com um vencimento superior ao G.W. Bush.
Até, os defensores da dignidade da carreira politica já vão dizendo que não é o Macedo que ganha muito, mas sim eles que ganham pouco. Assim, a solução poderá passar por actualizar o vencimento do 1º ministro para 23 mil euros e já não será necessário dispensar o Carola das Finanças.

domingo, janeiro 07, 2007

Terrorismo de sapatinhos roxos


Este mundo continua a oferecer coisas insólitas. Há sempre mais uns pozinhos que se adicionam ao impensável. A credibilidade das instituições mede-se também pela tendência de asneirar (numa medida de proporcionalidade inversa). Porventura desnorteada pelo andar dos tempos, e por se sentir cada vez mais desfasada do mundo que existe, a igreja tem-se destacado na arte da tolice. Uma infindável série de tiros no pé, para deleite dos adversários.

O papa falou às hostes por ocasião do novo ano. Da lição de moral constava uma referência ao aborto. Na prédica, Bento XVI comparou o aborto ao terrorismo.As mulheres que praticam o aborto são comparadas a terríveis terroristas que levam a vida de inocentes com a detonação das bombas que covardemente espalham. É uma discussão infindável, a que envolve os partidários e os adversários do aborto: saber se o feto é vida humana, e a partir de que momento o embrião é considerado ser humano portador de direitos que assistem às pessoas. O simplismo da comparação papal é um golpe oportunista: "tal como as vítimas do terrorismo são pessoas inocentes, também os embriões alojados no ventre materno são inocentes a quem as mulheres decepam a existência quando decidem abortar".

Para além de golpe oportunista, é um enviusamento mental. Não há como comparar o que não é comparável: ao nível da violência usada no terrorismo, que não está presente no aborto; o terrorismo leva vidas de pessoas a quem é reconhecida, de forma incontestável, personalidade jurídica, enquanto os embriões que nidificam no ventre materno não têm essa autonomia, são dependentes da mãe que os hospeda; e porque o aborto não é homicídio, como acontece com os resultados do terrorismo. A desorientação da igreja mostra a sua anacrónica veia. Colocar ao mesmo nível aborto e terrorismo pode apaziguar crentes e adversários da legalização do aborto. Com o custo, muito elevado, de não perceberem que escorregam para a desonestidade intelectual. Que seja urgente arregimentar as hostes perante os desafios que a igreja não consegue vencer – nomeadamente, viver a compasso do tempo que corre – é compreensível. Contudo, os devotos católicos são educados para a não contestação dos dogmas. Decerto não terá sido aos fiéis que a mensagem se dirigia. A prédica papal teria como destinatários os que começam a hesitar na fé e as ovelhas tresmalhadas.

A retórica é uma arte sublime. Bento XVI, que por encabeçar a igreja católica tem especiais responsabilidades, devia ter a sensatez de medir as palavras. Para não passar a imagem de um terrorista intelectual que amedronta mulheres mais frágeis que já praticaram o aborto e que, por devoção, hão-de carregar até ao fim da vida o peso do supremo pecado sancionado pelo papa. Isto é terrorismo mental. O seu promotor é um terrorista que armadilha as consciências de quem fica preso às amarras da angústia, depois de escutar as "sempre sábias" palavras papais.

O que falta ao papa (e à igreja em geral) é um consultor de marketing...