Vivemos hoje uma realidade
completamente distinta e desligada dos conceitos e dos paradigmas em que se
baseava a Revolução Industrial. Apesar disso, (governos, partidos, sindicatos e
patrões) continuam a dar as mesmas respostas para os novos problemas com que a
sociedade se defronta, insistindo nos mesmos sistemas políticos e modelos
económicos, que nunca vão resolver problemas como o desemprego, a justiça
social e as desigualdades. Já entrámos noutro modelo de sociedade, mas as
pessoas continuam a guiar-se por valores e padrões do modelo de sociedade anterior.
Por exemplo, os Bancos ainda há 30 anos tinham 20 ou 30 funcionários em cada
agência, para efetuarem o mesmo trabalho hoje, necessitam de 3 ou 4 pessoas.
Outro exemplo, qualquer grande obra, uma doca ou uma estrada, empregavam
centenas de pessoas, hoje, para fazerem o mesmo trabalho, basta meia dúzia de
máquinas, cada qual com um único operador. Mas as pessoas continuam a reclamar
por trabalho, ou por emprego, não percebendo que essa sociedade não vai existir
mais (a não ser que voltemos para trás, destruindo toda a tecnologia). O
emprego vai ser cada vez mais escasso e portanto, tem de se olhar para as
problemáticas que se colocam à nova sociedade e o grande problema não vai ser,
o que produzir e como produzir, mas sim como organizar o trabalho, como
garantir produções sustentáveis e como dividir a riqueza criada. Ora tudo isto
obriga a uma revolução de mentalidades que as pessoas não estão preparadas, nem
os políticos do mundo inteiro estão interessados em falar destes assuntos às
pessoas (é mais fácil inventar crises, abrir falências, manter elevados níveis
de desemprego e enterrar a cabeça na areia).
O trabalho deixou de constituir
uma proteção contra a pobreza, tendo-se transformado num mecanismo de
aprofundamento das desigualdades sociais. A prova disto, é que 20% dos
trabalhadores portugueses vivem hoje abaixo do limiar de pobreza. O desemprego
em Portugal cresceu de uma forma consistente a partir de 2000, ou seja, passou
de 4% para 18% (números oficiais) e o que a crise veio fazer foi apenas
agudizar essa tendência. O que isto nos mostra é que o modo como as sociedades
se organizaram a partir da revolução industrial, mas sobretudo a partir da II
Guerra Mundial, em que o trabalho se consolidou como princípio organizador da
vida individual e coletiva e foi proclamado como referência identitária e valor
de moeda nas trocas sociais, vai ter que sofrer uma profunda transformação. Dito
doutro modo, a subsistência dos indivíduos terá que ser desligada do trabalho. O
próprio sistema de proteção social está muito ligado à posição que o indivíduo
ocupa no sistema produtivo e a ideia que tem vindo a ganhar consistência,
nalguns movimentos intelectuais e nalgumas linhas de investigação, é que esta
lógica terá que ser substituída por aquilo a que se tem chamado rendimento
médio de cidadania, a atribuir a cada cidadão independentemente da posição que este
ocupa no sistema produtivo.
De onde viria o dinheiro? Da
riqueza gerada no reformado sistema produtivo e por via de uma reformulação
total do sistema de Segurança Social, isto é, pela canalização dos recursos afetos
a abonos, subsídios, rendimentos mínimos, reformas, etc., para esse rendimento médio.
É uma ideia polémica, mas há cálculos que demonstram que 80% do que se gasta
hoje com essa proliferação de apoios chegariam para pagar aos cidadãos com mais
de 18 anos esse rendimento médio, cujo valor teria que ser discutido, não ao
nível de Portugal ou Espanha, mas de toda a Europa (já que fomos empurrados
para a união política e monetária) e até do mundo ocidental.
Pode dizer-se: és o que fazes. Se fazes um trabalho inútil, bruto,
chato, idiota ou monótono... Então DIGNIFICA-TE!
O trabalho é uma explicação muito melhor para a crescente cretinização
que nos cerca do que até mesmo mecanismos claramente imbecilizadores como a
televisão e a educação (que visa a manutenção do status quo). Pessoas que são
arregimentadas por toda a vida, entregues ao trabalho pela escola e delimitadas
pela família no início e pelo asilo no fim, estão acostumadas à hierarquia e
escravizadas psicologicamente. A preparação para a obediência no trabalho
contamina as famílias que elas criam, gerando assim outras formas de reprodução
do sistema, e contamina igualmente a política, a cultura e tudo o mais, quando
se drena a vitalidade das pessoas no trabalho, elas ficam predispostas a se
submeter à hierarquia e à especialização em tudo. Estão educadas para isso.
Sócrates (o outro) dizia que trabalhadores braçais são maus amigos e
maus cidadãos porque não tem tempo de cumprir as responsabilidades da amizade e
da cidadania. Ele tinha razão. Por causa do trabalho, não importa o que estejam
fazendo, os trabalhadores estão sempre olhando para o relógio. O tempo livre é
dedicado principalmente a se prepararem para o trabalho. Cícero disse que
"quem troca a sua força de trabalho por dinheiro vende-se e coloca-se na
classe dos escravos modernos". Isto não deveria causar controvérsias, muitos
trabalhadores estão fartos do trabalho, há índices altos e crescentes de
faltas, rotatividade, baixas fraudulentas, greves e absentismo no trabalho. E,
no entanto, a sensação que prevalece, universal entre chefes e subordinados, é
que o trabalho “dignifica”, é inevitável e necessário.
PODEMOS DISCORDAR.
É possível abolir o trabalho (tal como o conhecemos) e substituí-lo,
nos casos em que ele tem finalidades úteis, por uma variedade de novos tipos de
atividades livres. Abolir o trabalho requer atacá-lo em duas frentes, a
quantitativa e a qualitativa. Por um lado, o lado quantitativo, tem que se
cortar de forma maciça a quantidade de trabalho que está sendo feito. Atualmente,
a maior parte do trabalho é inútil ou coisa pior, e deveríamos simplesmente
acabar com ela. Por outro lado - e acho que essa é a parte crucial e a novidade
revolucionária, é necessário pegar no trabalho que permanece útil e
transformá-lo numa variedade de passatempos lúdicos e artesanais,
indistinguíveis de outros passatempos prazerosos exceto pelo facto de que
resultam em produtos finais úteis. Eu estou preparado para aceitar essa
nova sociedade que nem sei como se irá chamar, mas será uma sociedade de
certeza mais fraterna, solidária e respeitadora da natureza humana. Aí, todas as barreiras artificiais do poder
e da propriedade poderiam cair. A defesa do ambiente e do Planeta viria por arrasto. Estaríamos dando
um verdadeiro contributo para “O FIM DA EXPLORAÇÃO DO
HOMEM PELO HOMEM”.
VIVA O 1º DE MAIO!
Súmula de vários (personalizada)
VIVA O 1º DE MAIO!
Súmula de vários (personalizada)