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quinta-feira, julho 16, 2009

Uma desgraça nunca vem só!


A forma como se encara o presente surto pandémico faz lembrar a piada de "La Haine" em que alguém que cai do 20º andar vai passando em vôo pelos andares mais abaixo e dizendo "até aqui, tudo bem... até aqui tudo bem...".
É que o problema resume-se da seguinte maneira:
a) o vírus H5N1 (o das aves de há uns anos) teve um rácio fatalidades/casos de cerca de 50%, mas não se transmitia directamente de humano para humano;
b) Esta nova estirpe do H1N1 está associada a uma mortalidade muito baixa, mas transmite-se directamente de humano para humano e, ao contrário da gripe "sazonal", não é endémico (pelo que os níveis de imunidade parcial entre os seres humanos são muito baixos); e
c) os vírus da gripe são conhecidos, entre outras coisas, por duas prioridades: a elevada velocidade de mutação genética e a possibilidade de co-infectarem células, recombinando-se com outras estirpes.

Se estes dois processos de antigenic shift e antigenic drift (para quem quiser ir à wikipedia) acontecerem no sentido da combinação da mortalidade do último H5N1 com a velocidade de propagação deste H1N1, o resultado é uma pandemia como a de 1918, com qualquer coisa como 100 milhões de mortos (um bocadinho mais do que os associados à maioria das causas que costumamos defender).
Por isso é tudo uma questão de probabilidades: a pandemia pode entrar em retrocesso mais cedo ou mais tarde, ou até tornar-se endémico na população humana, sem que o cenário catastrófico acima indicado ocorra.
Ou então não.
Não é certo que isto dependa grande coisa do que a humanidade venha a fazer, mas enfiar a cabeça na areia não me parece a melhor resposta...

Quanto ao Tamiflu, ao contrário do que se afirma, este é, de facto, um dos dois antivirais eficazes contra a gripe A. Ninguém nega que a Roche lucra imenso com a actual gripe. Face à sua muito limitada capacidade de produção (em 2004 produzia somente oito milhões de doses por ano), os governos devem, por isso, ignorar os direitos de propriedade intelectual do antiviral e produzi-lo em massa.

Extraído d'aqui